sábado, janeiro 15, 2011

Então, a matemática celeste, segundo Vilém Flusser, não se traduz exatamente na ordem matemática de Isaac Newton. E na superfície ordenada do sistema das línguas humanas, segundo o poeta Ferreira Gullar, não se traduzem os fenômenos do mundo em sua profundidade e em sua desordem.
Entretanto, pensando no que disse Ferreira gullar a respeito da experiência fauvista de Henri Matisse (disse que o homem só inventou a pintura, porque existe uma parte da experiência humana que não se traduz em palavras) e, segundo Arlindo Machado no seu A Arte do Vídeo, Editora Brasiliense, 1988, “(...) a pintura e a fotografia podem restituir o mundo em sua complexidade e desarmonia, com todos os acidentes do acaso e as irregularidades que moldam a face das coisas. Sabe-se que os teóricos da imagem sempre acentuaram o caráter “não codificado” das artes visuais: a imagem de uma árvore, dizem eles, é sempre alguma coisa particular, ambígua, polissêmica, esculpida por mil caprichos do acaso e em nada se parece com o desenho de outra árvore, mesmo que da mesma espécie. Duas árvores representadas em desenhos diferentes nunca mostram a mesma nodosidade nos troncos nem a mesma distribuição das folhas nos galhos ou dos galhos nos troncos. Diferentemente, portanto, da palavra “árvore” que é um conceito geral, abstrato e designa todas as árvores existentes ou existidas, sem se referir a qualquer árvore singular. Em síntese, enquanto a palavra teria como destino o conceito formal abstrato, a imagem estaria mais ligada à natureza concreta das coisas particulares, a despeito de todas as convenções de representação.”
Nesse sentido, a pintura de Henri Matisse está mais próxima da desordem da vida do que poderia estar próximo da vida o sistema codificado da língua portuguesa e do que poderia estar, como falava Vilém Flusser, a abstração matemática de Isaac Newton próxima da ordem imperfeita das esferas celestiais.
Ainda segundo Vilém Flusser, na sua A história do diabo:
“A desordem é própria da vida. A ordem é inimiga da vida, é a própria morte. Ordenar vida significa matá-la.” -pg 41.

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