sexta-feira, julho 06, 2012

Vou reproduzir os comentários do Davino e do Hugo a respeito do Mamãe me adora e Cinema Íris que acabei de lançar. 
Fico bem emocionado, bom leit@r.
Veja:

Leonardo Davino disse:
“As páginas 56-57 de seu livro "Mamãe me adora" me fizeram lembrar a canção "Mãe", de Caetano Veloso. Reli ouvindo a canção. Aliás, estou absorvido pelo livro. Parei tudo para lê-lo.
"Era para eu ser como mamãe (...) Entretanto, mesmo que tenha sido ela minha mãe e que tenha me educado sozinha, sem um marido, não lhe aprendi as maneiras" (Capucho).
"Eu canto, grito, corro, rio / e nunca chego a ti" (Veloso).”

Hugo Nogueira disse:
“Estou te devendo um comentário do seu disco, o show foi muito lindo, adorei o menino que tocou guitarra, você nem apresentou, rs. Dá para ver que ele conhece muito música e é muito talentoso, toca pra caramba. O arranjador é mesmo sensacional, faz mágica com aquele teclado dele. Não conhecia o Marcos Sacramento fiquei encantado, quero conhecer mais e mais, você tem razão, é mesmo um luxo ter a participação dele no seu disco, ele é um excelente intérprete. A música que mais gosto é a primeira do disco que foi a última do show, tem um verso, das calças arriadas no Rex, que traça um itinerário dos cinemas pornôs do Rio: Cine Orly-Cine Íris-Cine Rex. Daí você saiu do cinema com os livros "Rato" e "Mamãe me adora", mas quando descreve o encontro com o negão no banco da praça volta para esse universo da caça que você domina/representa tão bem. Gosto da maneira como você costura descrições explícitas de atos sexuais no seu texto. Essa falta de reserva, de pudor, aponta para o que está nas entre-linhas que exige uma decodificação maior por parte do leitor, principalmente no primeiro livro, eu sinto que você foi facilitando para os leitores para quem o universo dos cinemas não é familiar, aquilo que sempre houve de essencial no seu trabalho, na realidade não uma busca do sexo, mas por amor, afeto, reconhecimento, identidade, esse amor que as mães não são capazes de dar e por isso mesmo nos deixa confusos afinal para quem foi amado por suas mães não há referência maior de amor. Gosto tanto do seu trabalho que sempre tenho dificuldade de falar dele, mas agora com o curso de Letras estou ficando mais solto, retomando a voz que eu tinha quando fiz o curso de história da arte em 95, livre, sem tantas cobranças do supereu, menos exigente comigo mesmo e capaz de aceitar meus rascunhos e não esperar uma escrita que seja ao mesmo tempo automática e ideal. Mas, pode deixar que dessa vez vai. De mansinho. Entrevistei e traduzi um texto sobre um artista americano Ron Athey que se apresentou aqui no Rio, vejo um paralelo entre a obra dele e a sua, vai ser publicado, depois te passo o link.”

E depois disse:
“querido Luís Capucho ouvindo o disco. Ele é tão diferente do show em alguns sentidos. Eu realmente acho o começo sensacional, o
seuviolão está lindo, sua voz também está muito legal. É o que tem mais a sua cara, essa coisa menestrel, assim meio Dylan, Reed, Cohen. Tem uma atmosfera que me lembrou a da música do Pet Metheny com o Bowie, "This Is Not America" do filme "The Falcon and the Snowman", é uma música singular no repertório do Bowie que conheço bem, deve ser porque não é mesmo dele, mas do Metheny. É mais uma questão de clima, meio "On the Road", violão debaixo do braço, pegando carona, andarilho, fazendo música na rua. Agora a música em que dá para identificar o puta trabalho do Paulo é a versão de "Cinema Íris" do disco. Lembro daquela primeira versão super crua. A produção, o arranjo, a cama musical que ele fez para sua música a valorizou demais. Ficou muito linda. Com certeza é uma das mais completas, onde a letra e a música casaram melhor. Como "Lua Singela" do primeiro disco. Claro que a música está a serviço da letra que é uma das suas melhores, mas é como uma filmagem profissional, a qualidade do som, da imagem, valoriza de tal forma o conjunto que você pode apreciar melhor os detalhes e fica mesmo imbatível. Eu adoro o jogo que você faz nos versos: "Homens com caras de bigodes Homens com caras cabeludos Homens com caras travestidos Homens com caras de hospício Homens com caras de mal", quem é quem, nesse corredor de espelhos em que ninguém se vê nem vê realmente ninguém. Também é um retrato de uma fauna que está cada vez mais difícil de encontrar. Essa diversidade pré-AIDS predominava. Não existiam tantos estereótipos, tribos, imagens específicas distribuídas, atribuídas a classificações geográficas. Era assim uma massa sem rosto, sem um corpo que se diluía. A Vieira de Carvalho em SP era assim ainda no começo dos anos 80. Na boate Navy em Fortaleza em meados dos anos 80 ainda era assim também e nas outras boates de Fortaleza do período também a Flamingo, a Mansão Branca. Em SP ainda tem o Bailão, o Caneca de Prata, remanescentes desse período, mas está mais para um amalgama do que propriamente uma dissolução dionisíaca e de gozo. Sobraram esses cinemas aqui no Rio, mas já no seu livro "Cinema Orly" você já apontava que estava registrando descrevendo preservando uma cultura decadente que vai desaparecendo. Esses homens da música são os mesmos espectros do livro. Dinossauros, como você bem descreveu, à espera da extinção total, quando só restaram os fósseis a serem desencavados e descobertos por gerações posteriores de gays ou pós-gays que na realidade é o que temos agora. Mas você ainda é, e eu também, o que um argentino de quem comprei o livro chama de "os últimos homossexuais", ou ainda, homo-gays, aqueles com mais de 40 anos que acompanharam essa transição de homossexuais para gays e levaram consigo essa cultura homossexual já superada pela gay (e até por uma post-gay eu acredito). "Eu quero ser sua mãe" é uma delícia, já tinha adorado ao vivo e acho que ao vivo soa até melhor, esse seu talento para encontrar/descrever o romântico de uma forma inusitada, como você chamou atenção naquele texto que escreveram sobre você no Globo. A minha grande surpresa no disco, foi a versão de "Para pegar", eu adorei no show, gosto muito dessa ideia de "deixar a rua me levar" da única música boa da Ana Carolina (desde que cantada pela Bethânia). A sua tem um sabor especial claro. Esse "rolê" que você propõe nós gays conhecemos e vivemos de uma maneira muito particular. O que eu achei realmente inusitado e inédito no seu trabalho foi esse arranjo meio discoteca, dançante, que tem tudo a ver com a música claro. Sugiro um remix babado para tocar nas pistas de dança. Bj”

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o comentário sobre "A música do sábado" :) beijos kAliC