domingo, setembro 29, 2013

As carinhas de um artista que se espraia
Por Rodrigo Contrera

Elas nos fitam com simplicidade e uma certa estranheza e, por que não dizer, incredulidade. Sentimos que somos como que devassados pelos olhares dessas "meninas" - como as chama o seu criador, o escritor, compositor e cantor Luís Capucho -, pintadas em telas de dimensões inusitadas - geralmente numa relação de cinco para um em comprimento em relação à largura - e de forma quase primitiva - se isto já não tivesse virado quase um clichê. As figuras das "meninas" - também chamadas por Capucho de "minhas carinhas" - aparecem lado a lado, com cores de blusas, cabelos e fundos contrastantes, sempre de muito bom gosto, e sua simplicidade chega a surpreender. O que elas vêem? Em que medida elas se expõem? Fato é que parecem corporificar seres reais, sem contudo chegarem a lembrar ninguém. Há telas em que as carinhas principais, lado a lado, são acompanhadas de carinhas secundárias, atrás aparentemente, preenchendo os buracos das outras telas. Mas o estranhamento permanece. Elas nos encaram com olhares perscrutadores e nunca com sorriso nos lábios - algumas até com olhares tristes ou remetendo a passados que só elas mesmas podem conhecer. Como tudo que Capucho faz, seja em literatura ou música, as "meninas" de suas telas trazem à luz uma crueza primitiva que faz com que nos questionemos e quase não consigamos enfrentar o seu olhar. É a marca do artista agora em telas de pintura.
                                                 
                                                         Rodrigo Contrera é jornalista e assessor de imprensa





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