terça-feira, fevereiro 28, 2017

Este ano vai igual àquele que passou, carnaval nem pela televisão.
Mas não é o caso de estar triste, de não curtir alegria, de não gostar de ver o pessoal esbanjando brilho e amor. Na verdade a vibração do carnaval é tão forte que mesmo que o meu esteja igual ao do ano passado, ele chega pra mim, vêm uns focos de carnaval aqui, umas alegrias, tipo, os Fora Temer, uns batuques na minha rua, a gente vê do prediozinho neguinho indo ou voltando com as fantasias e tudo.
Mamãe faleceu num domingo de carnaval, na hora em que a Império Serrano entrava na avenida, em 2009. Isso encheu de sentido a sua morte, porque a gente vai fazendo as relações, quando uma coisa não tem explicação, você sabe. Naquela noite, o ar de Copacabana estava cheio de água. Em torno às luzes da praia, havia uma neblina de água, em torno aos prédios e nas ruas internas de Copacabana também tudo estava meio ofuscado daquela neblina líquida. Assim, no baque de saber que ela estava morta, o meu corpo ficou três vezes mais pesado do que eu costumo sentir de seu peso e imersos nas ruas de Copacabana – eu estava com uns amigos queridos – com aquela neblina vinda do mar invadindo o bairro, na madrugada, eles falavam de outras coisas, minha mãe tinha acabado de morrer, e não sei se viram o ar mais denso chegando do mar. E que eu estava mais lento e pesado do que costumo ser lento e pesado.
Nesse domingo de desfile de carnaval, fez 8 anos de seu falecimento e fiquei doente, febre a noite inteira. Agora estou forte outra vez. Hoje é o último dia do colírio.

Como disse a Teuda, não tenho esse Édipo. Olho furado tem cura!

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