sexta-feira, julho 07, 2017

Em 1968, quando nós morávamos na casa de Dona Odaléa, havia uma televisão em sua sala e um vaso de louça bem grande, onde estavam enfiadas, num leque, não sei quantas, mas eram muitas penas de pavão. Não sei, eu era um menino de seis anos e não me interessava saber o motivo de a televisão nunca ser ligada. Era pacífico que ela estivesse lá, com sua tela um pouco esverdeada, fria, apagada, cintilante na sala, junto às penas de pavão.
Por essa e por outras, fui um menino sem assistir televisão. Então, quando eu tava na Dona Odaléa, tinha mais fascínio pra mim as coisas dentro das gavetas, nos cômodos escuros, fechados, de armários, cômodas, guarda-roupas. O que estava dentro da televisão não me instigava.
Estou lembrando isso porque, depois, já adulto, quando eu e mamãe começamos a ter a nossa sala, aí, era televisão ligada pra ver as novelas e tudo. E, então, quando mamãe se foi, não quis mais televisão. E quando vieram os Vizinhos de Trás com seus movimentos cheios de barulhos, que, ao revés, me encheram de fascínio ruim, Pedro me deixou uma televisão, que era pra que eu me distraísse deles. E isso não adiantou muito, mas fiquei agradecido.

Faz duas semanas, essa minha televisão, que como a de Dona Odaléa, nunca é ligada, foi levada para o Atelier de Indumentária, em Piabetá. Fiquei feliz com o espaço vago que ela deixou na sala, na prateleira, na estante. Comecei a pensar em também ter um toca-discos.

Um comentário:

Jôka P. disse...

Depois que a minha mãe morreu, em 2011, eu também nunca mais liguei a televisão.